No começo somente o Caos existia no universo em forma vazia e caótica, dele surgiu a deusa Nix, sua filha, junto de seu irmão Érebo.

Certa vez a deusa da noite, andava pelo universo observando os planetas e toda a estrutura no qual foi construído, quando observou um meteorito caindo em um planeta, a deusa que vagava pela noite usando seu véu negro decidiu observar mais de perto o ocorrido e quando chegou lá se deparou com uma nova criação, os humanos.

Nix manteve seu véu negro e a partir dali, passou a desvendar os segredos que cercavam aquele lugar, ela, deusa da magia, da noite e dos segredos, espalhava suas dádivas por todo o planeta, em sua carruagem trazia a noite repleta de estrelas, habitava os pontos mais remotos e escuros, profetizava a favor e contra aqueles que a desagradava.

Em uma outra ocasião, a deusa assumiu uma forma menos primordial e passeava pelas planícies chegando a ser confundida com os humanos, sua beleza incomparável fazia de si tão bela quanta a noite, a filha do Caos trazia em sua essência o que os outros deuses não foram permitidos conhecer, o segredo da imortalidade.

O mundo dos deuses não era um mundo pacifico e em uma guerra irrompida, trouxe longos anos de combates, um grande deus, controlador do tempo constituiu uma rebelião que durou 10 anos, depois de muitos combates, por fim o deus foi derrotado e aprisionado junto de seus companheiros.

Como punição, a deusa que carregava consigo o segredo da imortalidade, desceu até o mais profundo dos abismos para dar aquele rebelde e tirano uma punição muito mais dolorida que o simples fato da derrota.

– Senhor do tempo e rei dos titãs, seus crimes e astucias chegaram ao clamor de muitos, sua violência e sede por poder ultrapassou todos os limites, trazendo pra si mesmo um castigo além do suportável.

– Nix, você deveria estar ao lado de seus irmãos nesta causa, mas você me aparece em forma de punição por algo que eu lutei para benefícios de muitos.

– Não me compare com as criaturas doentes por poder que tão cegamente lhe seguiram por causa da ganância e hostilidade com as hierarquias divinas.

– Então você irá me punir?

– Sim Cronos, eu irei te punir, você que é imortal não se mostrou digno e nem merecedor de tal dádiva e por isso partilhará agora de uma vida mortal, o medo de morrer, a dor, o sofrimento e a incerteza de viver.

A deusa primordial da noite se aproximou de Cronos sem que ele percebesse e com um toque delicado e hostil tirou dele a imortalidade, o rei dos titãs agora poderia morrer, mas não havia perdido seus poderes, com um olhar sério e com um sentimento de revolta, o deus do tempo sentia-se numa posição humilhante, já não era mais imortal como os outros.

– Que isso lhe sirva de lição por toda a ambição maldosa que tentou aplicar sobre os deuses, assim como destronou seu pai Urano, também fostes destronado por seu filho Zeus e derrotado por ele, e punido por mim, carregarás na pele o meu poder e se lembrará de mim como tua punidora enquanto viver.

A deusa desaparecia dali, sendo levada pelos os ventos que lhe acompanhava sutilmente deixando para atrás uma nuvem negra como a noite, simbolizando seu poder diante de todos os titãs que a partir dali passaram a temer grandemente a deusa da noite.

Em seu total desprazer, Cronos lamentava em si mesmo a fraqueza de não poder ter feito nada contra aquela deusa e amarguradamente a lembraria como sua punidora que fora enviada pelos deuses que ele tentou derrubar e assumir o governo do universo de forma irregular.

Em seu íntimo Cronos dizia:

– Um dia sairei daqui e construirei uma arma tão poderosa que será capaz de matar qualquer deus mesmo eles sendo imortais e todos me temerão e meu orgulho e poder será por fim enaltecido diante dos olhos de meus opressores.

O deus do tempo, agora mortal, em seu triste leito adormecia vítima dos efeitos dos dons de Nix e seus irmãos de guerras sentiam na pele o pavor daquela deusa a cada momento que olhavam para a escuridão.

Em sua prisão Cronos ainda tinha esperança de sair de lá e procurou observar seus guardiões para achar uma brecha. Ora, Cronos não era mais imortal, no entanto aquelas correntes que prendia os titãs foram feitas para prender deuses imortais e não tinha efeito em meros mortais, mas Cronos não quis que isso fosse percebido pelos outros e esperou que seus irmãos presos dormissem e colocasse seu plano em ação.

Em outro local a deusa Nix viajava pela noite levando ao mundo tons de escuridão que trazia uma breve brisa antes do amanhecer que era trazido por sua filha Hemera, Nix se sentia satisfeita por ter posto um fim na arrogância e ambição de Cronos, o tornando um mero mortal.

No tártaro estava Cronos observando seus irmãos adormecerem, de um lado havia três Hecatonquiros, mas um logo sairia para fazer a guarda pessoal de Zeus. De tempos em tempos, os dois Hecatonquiros saiam de perto da prisão para observar as saídas e entradas do tártaro e foi nesse momento que Cronos parou o tempo dentro da prisão durante poucos minutos e depois o fez entrar em um ciclo de repetições que mostrava Cronos e seus irmãos presos dentro do tártaro, ele calmamente esperou os Hecatonquiros voltarem para verem que ele estava lá, imóvel e sem dar uma palavra e quando eles saíram novamente, um para ver as entradas e o outro para ver a saída, Cronos retirou de seu corpo e membros, as correntes do tártaro que não percebeu a astucia de Cronos.

Cronos então se escondia pelas encostas do tártaro esperando os Hecatonquiros voltar e sem perceber a fuga de Cronos permaneceram observando os presos quando Cronos finalmente pode fugir daquele local que foi submetido pelos deuses vencedores, mas para onde Cronos iria?

Cronos imaginou que não poderia mais ficar na Grécia e nem assumir mais o governo do universo, então com um simples fechar de olhos e decisão firme, ele partiu para Itália e chegando lá assumiu um papel entre os deuses daquele local, os olimpianos não poderiam ir lá, então Cronos que era mortal, mas ainda era divino fez um trono para ele e passou a ser venerado naquele lugar e conhecido agora como – Saturno, o deus do tempo.

Os olimpianos nada podiam fazer quando souberam da fuga de Cronos pois nenhum rastro dele foi encontrado, apenas relatos que o mesmo era um deus em um outro lugar.

Nix, por sua vez era contemplada com sua maldição pessoal, em sua própria morada, quando amanhecia ela voltava para seu castelo entre as fronteiras do submundo e lá sem poder ficar perto de sua filha, cruzava os muros de sua morada e tocava com as pontas dos dedos sobre Hemera que em sua carruagem levava o amanhã para os deuses e humanos, com apenas olhares e gestos as duas nunca ficavam juntas e carregavam em si a tristeza de se verem por poucos segundos ao final do amanhecer de cada dia.

Ali estava algo que a extraordinária Nix não podia mudar e não tinha poder para curar aquela dor de não poder conviver em sua morada com sua filha, esse era os únicos momentos que a noite chorava a cada amanhecer do dia e a cada começo da noite.

Nix seguia observando tudo e construindo as histórias que seriam contadas através dos séculos, a deusa viveu muitos momentos e teve muitas caminhadas.

03. Hemera