03 - Hemera

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Era noite ainda, Hemera levantava de seus aposentos que eram repletos de luz, a mais intensa luz existia ali, Hemera é a luz.

Enquanto caminhava por seu palácio, seu pensamento vagava longinquamente a procura de sua mãe que habitava o universo naquele momento, então Hemera se dirigia até o muro de seu palácio e bem longe, na direção do horizonte, onde constelações se encontravam, ela via sua mãe que era tão bela quanto à própria noite, Hemera sorria enquanto em seus olhos caiam lágrimas cristalizadas da mais pura luz que emanava daquela deusa.

Com cavalos negros que traziam em sua carruagem divina a noite, Nix trazia em seu belo rosto um inigualável sorriso e uma lágrima que caía e parecia uma estrela saindo de seu trajeto em direção ao plano terrestre. Tinha chegado o momento eterno que se repetia todos os dias.

A deusa falava pra si mesma em pensamentos:

“Um dia poderei ficar junto de ti, oh pura e brilhante Hemera, que da noite brotou o amanhecer, que da noite traz a luz para o mundo e gratidão a minha vida”.

Do outro lado, com um sussurrar da aproximação de sua esplendida mãe, Hemera fechava seus olhos e recebia aquele pensamento que era trago pelos ventos noturnos e em seu intimo a deusa contemplava:

 “Um dia estaremos juntas, não mais divididas pela noite ou pelo dia, e sim completadas pelo a amanhecer e anoitecer, que traz o mais puro calor, a inimaginável brisa matutina, podendo assim por fim, juntarmos em um sonho familiar, a realização do calor de mãe e filha”.

Das fronteiras entre a luz e a sombra, Hemera se preparava para entregar o palácio nas mãos de sua mãe, seus cavalos que carregavam o Sol levando o amanhecer, já se agitavam com a presença dos cavalos da noite que traziam sobre eles o fim da noite.

E bem ali, além do oceano, no extremo do ocidente, atrás do grande muro que separa as portas do inferno do mundo visível, onde o palácio de ambas aguarda suas donas, Hemera sai e cumprimenta sua mãe que chega, Nix chega e toca sua filha que sai e mais uma vez esse ciclo se repete por toda eternidade ou talvez não.

Do alto do Olimpo, Afrodite observa Hemera que tem uma beleza comparada as ninfas que andam pelos campos, não tão longe dali seu irmão Éter a admira cada vez mais, com olhos que brilham intensamente por tal beleza, o deus do céu superior, se faz presente naquela jornada repetitiva de sua irmã e a para por um breve momento:

- Hemera, a cada dia que passa sua beleza se torna tão brilhante quanto a aurora e eu fico admirando-te infinitamente.

- Éter meu irmão, parar o ciclo do dia para me relatar tão belas palavras é de uma imprudência imperdoável, o que deverei dizer aos outros deuses primordiais que também dependem desse ciclo?

- Diga a eles que Eros me atingiu com uma de suas flechas e me fez irreconhecivelmente correr até minha adorada e para-la para dize-lhe o quanto a amo e a desejo.

Hemera sentiu em si um sentimento de agrado e desejo que era infinitamente contagiante.

- Éter, me encontre ao final do dia, quando o Entardecer se aproximar e aí conversaremos.

- Se desejares Hemera, eu trago o Entardecer agora.

Hemera continuou sua correria e se lembrava das palavras de seu irmão que a envolvia como se estivesse sob o poder dos deuses controladores do amor.

Quando o fim do dia chegava, o Entardecer assumia previamente o controle do tempo para que Hemera chegasse ao seu palácio e cumprimentasse sua mãe, mas nesse dia que ficou mais longo, a deusa esperava por alguém e não era sua mãe.

- Éter, sei que você está aqui pois sei que você olha dos céus os fluxos da terra.

- Sim Hemera, estou aqui mais uma vez observando sua beleza e todo o brilho que traz em si.

- De fato, o que me falastes hoje és verdade meu irmão?

- De fato, sim, o poder de persuadir pertence a você, não a mim, jamais mentiria para você.

- Me ofendes quando me dizes que uso a persuasão para conduzir a mente das pessoas.

- Me perdoe, em momento algum quis lhe passar tal sentimento.

O deus do céu se punha de joelhos em frente Hemera prestando-lhe respeito e arrependimento por tais palavras que não foram de intuito ofensivas a sua irmã.

- Tudo bem Éter, estás perdoado, me cubra com suas nuvens e me leve para o intenso amor que dizes sentir por mim.

- É tudo o que mais quero Hemera.

Éter trouxe para o corpo de Hemera intensas nuvens que escondia a beleza da deusa e o ápice do momento da visão de outros deuses. Os céus estremeceram o dia durou mais que o normal, de seu palácio a deusa Nix esperava sua filha, mas a mesma não surgia no horizonte, o Entardecer não entardecia, a noite não chegava e o céu gritava de alegria.

Do monte olimpo, Zeus olhava para os acontecimentos e não entendia o que estava acontecendo, não era os titãs ou inimigos atacando, era Hemera que não voltava por algum motivo para o seu palácio.

Então Zeus, furioso, joga de seu trono raios e o céu nublado se dispersa e abre com toda intensidade e o rei dos deuses ver Hemera ainda despida no leito de seu irmão. Com uma voz de trovão, o deus do olimpo ordena que Hemera retorne ao seu palácio, mas a deusa contagiada por seu prazer desconsidera a ordem de Zeus e o olha com olhos furiosos e flamejantes, vermelhos de ódio por ser interrompida, o céu começa ser abalado por ventos escaldantes e chuvas com fogo, a doce e brilhante Hemera se tornara rude e extremamente negra. Éter por sua vez pede calma a Hemera e diz a Zeus que a mesma retornará para o seu palácio.

Nix sentiu a raiva de sua filha e correu para a frente do palácio e se deparou com o céu totalmente amarelo e vermelho como se fosse queimar infinitamente. Então a deusa largou seus cavalos que conduziam a noite e com uma nuvem negra se jogou de seu palácio em busca de sua filha e no meio do caminho observara que Hemera se aproximava e ao olhar pode entender o que havia ocorrido e sorriu:

- As flechas de Eros sempre acertam os dois lados, mas deveras eu não sabia que em tal calmaria existia um céu agitado e pronto pra atacar.

Hemera cumprimentava sua mãe e pela primeira vez pode abraça-la naquela confusa noite e dia.

Zeus desceu em forma de raio e parou em cima do muro do palácio das deusas e as chamou para um aviso:

- Hemera, por me desobedecer e fazer pouco de mim em frente os deuses, não serás mais a regente e guia do amanhecer, de hoje em diante, seu irmão adotivo Hélio, conduzirá a carruagem do Sol levando luz e amanhecer para o mundo.

A deusa Hemera sentindo-se ainda em sua fúria diz a Zeus:

- Mesmo que quisesse, eu não voltaria mais para esse encargo, saiba que é um favor que me faz me tirando de tal missão dolorosa.

A deusa dá um riso e Zeus se sente ofendido e ergue suas mãos para os céus e forma uma grande quantidade de raios em direção a Hemera.

- Eu sou o soberano do Olimpo, não me trate como palhaço!

Lá do fundo, em meio às sombras surge uma voz:

- Se triscares em minha filha te darei o mesmo destino de seu pai Cronos!

A deusa que tira a imortalidade olhava absolutamente negra e feroz contra o rei dos deuses, mas outra voz surgia dali:

- Se triscares em mim, deixarei o mundo em escuridão e farei cair incansavelmente uma chuva de fogo sobre os humanos e o monte Olimpo, derrubarei o Sol na terra e todos serão pulverizados diante de mim.

Zeus ao olhar Nix e Hemera juntas em um mesmo objetivo, desfaz os raios e pede desculpas por ter sido rude com as duas. Ora, aquelas palavras de Nix traziam um grande pavor para Zeus e o olhar de Hemera lhe impusera um respeito pela primordial do dia. Zeus então voltou ao monte olimpo sentindo-se incapaz de enfrentar aquelas primordiais da criação, elas eram totalmente diferentes dos titãs, era poder além do normal.

As lágrimas que caiam dos olhos de mãe e filha, agora eram de alegrias, as duas podiam passar o tempo juntas agora e o palácio e caminhada das deusas ganharam novos horizontes e do céu Éter observava sua amada que já carregava em seu ventre, filhos.

Nix que também controlava o destino desfez da mente dos humanos os horrores que aconteceram naquele dia e o ciclo seguiu normalmente e Hemera já com filhos no ventre se deitara esperando a hora de dar à luz.

E assim as histórias e experiências dos deuses se construíam dia após dia.

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